sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Tu tens um medo...


A idéia desse blog era postar todos os dias. Mas ontem o não escrever foi uma forma de se expressar.

Dia 08, ainda é diferente dos outros 30 dias do mês. O que foi registrado ontem foi o silêncio, a falta e o vazio que a saudade deixou, representada em um dia.

Focando no dia de hoje, como deve ser, não seria eu se não colocasse logo um texto de Cecília Meireles. Logo ela que é minha poetisa predileta e que tem os textos dos quais mais me identifico, e na minha percepção os que mais tocam a alma.

O texto fala sobre o medo, sobre as dúvidas que temos na nossa vida, sobre a pressão que causamos a nós mesmos, sobre nossos cliclos, sobre nascimento e rompimentos. Enfim, sobre a vida e tudo que ela proporciona, de bom e de ruim.

Sabe, tenho escutado que tudo passa nessa vida. As coisas boas e as coisas ruins...tudo é efêmero.

Ainda estou trabalhando para que a saudade, tristeza, mágoa saiam da minha vida...e tentando lidar com tantas coisas boas que enfeitavam a minha vida e que passaram, ou melhor arrancadas da minha rotina. Ainda não sei o que fazer com tantos sentimentos bons que ficaram suspensos no ar. Por enquanto...só continuo tocando a vida. Quem sabe o tempo leva embora, e me traga o conforto das respostas que tanto espero.


"Acabar.

Não vês que acabas todo o dia.

Que morres no amor.

Na tristeza.

Na dúvida.

No desejo.

Que te renovas todo dia.

No amor.

Na tristeza

Na dúvida.

No desejo.

Que és sempre outro.

Que és sempre o mesmo.

Que morrerás por idades imensas.

Até não teres medo de morrer.

E então serás eterno.

Não ames como os homens amam.

Não ames com amor.

Ama sem amor.

Ama sem querer.

Ama sem sentir.

Ama como se fosses outro.

Como se fosses amar.

Sem esperar.

Tão separado do que ama, em ti,

Que não te inquiete

Se o amor leva à felicidade,

Se leva à morte,

Se leva a algum destino.

Se te leva.

E se vai, ele mesmo...

Não faças de ti

Um sonho a realizar.

Vai.

Sem caminho marcado.

Tu és o de todos os caminhos.

Sê apenas uma presença.

Invisível presença silenciosa.

Todas as coisas esperam a luz,

Sem dizerem que a esperam.

Sem saberem que existe.

Todas as coisas esperarão por ti,

Sem te falarem.

Sem lhes falares.

Sê o que renuncia

Altamente:

Sem tristeza da tua renúncia!

Sem orgulho da tua renúncia!

Abre as tuas mãos sobre o infinito.

E não deixes ficar de ti

Nem esse último gesto!

O que tu viste amargo,

Doloroso,

Difícil,

O que tu viste inútil

Foi o que viram os teus olhos

Humanos,

Esquecidos...

Enganados...

No momento da tua renúncia

Estende sobre a vida

Os teus olhos

E tu verás o que vias:

Mas tu verás melhor......

E tudo que era efêmerose desfez.

E ficaste só tu, que é eterno."


Cecília Meireles

Um comentário:

  1. Adorei amiga!!!
    Não tinha mais entrado aqui... vi hj esse poema, achei lindo!!!!
    Continue postando!
    Bjs,
    Aninha

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